Tem gente que diz que consenso é sinônimo de decisão por maioria. Tem gente que diz que consenso é unanimidade.
A continuidade da empresa familiar envolve uma sociedade herdada entre pessoas que não se escolheram para serem sócias. Pessoas que não pensam igual, querem coisas diferentes, mas mesmo assim precisarão tomar decisões em conjunto. E, diferentemente da empresa de um dono que pode decidir tudo sozinho, ter sócio significa participar de um processo coletivo de decisão.
Mas por que a UNE fala em consenso? Por que não decidir por votação? Não é muito mais fácil, rápido e menos burocrático?
Quando se vota, alguns ganham e outros perdem
O entendimento de que no consenso não há vencedores nem vencidos faz o negócio crescer e se perpetuar. É importante ter claro que a conclusão a que se chega no consenso, por muitas vezes, é diferente de qualquer opinião individual existente no início do debate. É uma solução construída, ramificada e rica que confere saúde à relação societária.
Consenso, no método da UNE, é uma linha de chegada, uma conclusão trabalhada por duas ou mais pessoas por meio de debate de diferentes opiniões. Para existir consenso precisa haver, portanto, divergência. Se não houverem opiniões diferentes não há debate, não há riqueza de visões, há sim unanimidade.
Acima de tudo, para se atingir o consenso é preciso saber ouvir
Para cruzar essa tão importante linha de chegada, o processo de decisão entre os familiares precisa ser inclusivo e colaborativo. E muita coisa importa na eficácia da comunicação: o jeito que se fala, o tom de voz, a postura corporal, o quê se fala, quando se fala. Mas nada é mais importante na comunicação do que ouvir.
Ouvir de verdade, não só escutar para rebater ou para discordar. Já perceberam que quando escutamos alguém falar, às vezes estamos tão ocupados elaborando a nossa defesa ou um argumento contrário, que sequer conseguimos ouvir o outro? Já perceberam que às vezes a nossa fala é interpretada de forma totalmente diversa daquilo que havíamos planejado e a discussão perde o foco?
Geralmente isso se dá por um problema na escuta, não na fala. E a única escuta que a gente controla é a nossa, não a do outro. Por isso, é tão importante estabelecer boas bases de abertura e um ambiente em que todos verdadeiramente possam se ouvir. Em que boas ideias possam brotar. Em que o valor dos familiares seja reconhecido e suas experiências sejam respeitadas.
Decisão por consenso é mais trabalhosa, mais demorada, mas muito mais sólida!
No consenso todos se responsabilizam pela decisão tomada, sem culpar o outro quando não dá certo. Sem torcer pelo insucesso do outro, que afinal também é um insucesso para a empresa. E a implementação da decisão? Fica mais fácil, porque está legitimada por todos, fruto de alinhamento e produção conjunta.
Numa sociedade, especialmente numa sociedade herdada, é natural que a existência de muitas divergências. As experiências de vida, gerações, competências, perfis e crenças são diversas. E, muitas vezes, são as histórias e as mágoas do passado que fazem parecer a busca pelo consenso um objetivo impossível. Não é um caminho fácil – a luta pelo alinhamento – mas, o importante é ter sempre em mente que há pontos essenciais em comum, a preservação da família e a vontade do crescimento do negócio. É um exercício duro, sem dúvida muito mais trabalhoso que o voto, mas essencial para o fortalecimento das relações e consequente sobrevivência da Empresa Familiar.
Ganham todos que dependem do negócio, ganham os sócios, ganha a família.
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