É natural que a família viva bem e desfrute dos lucros que o negócio empresarial esteja proporcionando, mais que natural, é desejável.
Quando a empresa familiar vai bem, o lucro obtido proporciona um padrão de vida bastante confortável, determinando o orçamento de consumo da família. A família não vive do pró-labore, mas dos lucros.
Porém, quando a empresa atravessar uma crise, e os lucros cessarem, a família sofrerá com a perda da renda necessária para manter o padrão de vida. De uma forma ou de outra, um novo nível de consumo se estabelecerá. Possivelmente será uma mudança dolorosa. O grande risco nesse caso é a dificuldade em ajustar o orçamento familiar, resultando na descapitalização da empresa, ou seja, transformando ativos em consumo, comprometendo ainda mais o futuro.
Existe outra situação que é também preocupante. É quando não se está vivenciando uma crise. Pode soar estranho, mas se há lucro, se a empresa está bem, como convencer a família baixar seu padrão de consumo? Vai ser muito difícil. Quando isso pode acontecer?
Pode acontecer diante da necessidade de investimentos. Tão necessários num mundo onde a atualização é constante. Também em mudanças tecnológicas, oportunidade de uma aquisição ou criação de um novo negócio, expansão, ou ainda, outras questões estratégicas que poderiam fazer a empresa crescer e aumentar sua competitividade. Ou seja, oportunidades ou necessidades de fazer investimentos que dependem de retenção de lucros, maiores que as reservas já em curso.
Muitas vezes a condição familiar nem permite que a análise dessas oportunidades e das necessidades seja pautada.
O investimento nem é cogitado. Já se parte do pressuposto que não há dinheiro. Claro, ele está saindo em forma de distribuição de lucro para manter o padrão de consumo da família. E a pressão das famílias sobre os sócios é muito grande, trata-se de um conflito potencial.
Este cenário é conhecido por muitos empresários. Pode-se ver isto se desdobrar no sucateamento de muitas empresas que ficam paradas no tempo perdendo espaço para concorrência. É como se a falta de investimento criasse uma crise causada pela própria empresa.
A saída é a família não beber de uma única fonte. Lógico que parte do lucro distribuído deve ser usada para estabelecer uma boa condição de vida, mas uma pergunta para os familiares pode ajudar a ampliar as possibilidades: Em que outros negócios e trabalhos eles podem estar envolvidos?
Assim, o investimento inicial pode ser para impulsionar novos negócios, criando novas fontes de receita familiar, aproveitando os recursos financeiros e conhecimentos já existentes na cultura da família. É como dividir os ovos em cestas diferentes, quando um negócio precisar reter lucro, outros mantêm a família.
“E para a família ir bem, obrigado”, é preciso ampliar a visão sobre o negócio, os papéis, responsabilidades e expectativas de todos os envolvidos. Exige também estimular mais conversas, bons acordos entre os sócios e, sobretudo, trazer à consciência a distinção entre o que é do âmbito da família, da sociedade e da gestão.
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