“Em um mundo cada vez mais conectado e transparente, o estudo e o desenvolvimento de competências de comunicação são primordiais para o exercício da melhor governança”, defendem os autores do livro Thamisa, Dinâmicas Humanas no Conselho, do IBGC.
Essa citação inspira e traz contexto para o início deste artigo que se propõe a estabelecer uma correlação entre atributos considerados chave para um conselheiro(a) de excelência e competências como Comunicação, Inteligência Emocional e Segurança Psicológica.
De acordo com estudo global da Korn Ferry (2024), os atributos chave para um conselheiro(a) de excelência são:
- Construir Confiança: Demonstrar coerência entre palavras e ações
- Promover Colaboração: Promover colaboração com outros stakeholders
- Diversificar Opiniões: Criar ambiente onde diferenças são valorizadas
- Simplificar o Complexo: Liderar questões complicadas e transmitir mensagens diretamente
- Construir Consenso: Atuar de forma proativa para solucionar conflitos.
- Poder de Síntese: Sintetizar informações, experiências e opiniões para definir rota.
- Pensamento Estratégico: Mudar abordagem para atender demandas específicas
Ao avaliar cada um destes atributos, seu alcance e impacto, podemos, refletir que seu exercício pode ser influenciado pelas dinâmicas estabelecidas em um conselho, bem como pela capacidade dos membros do conselho de articular emoções e comunicação neste contexto.
Para tangibibilizar essa reflexão, trago um trecho do livro Thamisa que ilustra como a comunicação e as emoções podem impactar os ambientes e dinâmicas de conselhos:
“Emoções exacerbadas e fora do controle se manifestam em uma comunicação agressiva que pode gerar grande instabilidade no grupo, provocar decisões equivocadas e resultar em grandes prejuízos tangíveis e intangíveis. Isso porque, sob forte estresse e ansiedade, tendemos a perder o bom senso e a agir de forma inadequada. Julgamentos, generalizações e acusações, sem os devidos contexto e acuidade, geram desconforto, desconfiança e desagregação.”
Sobre a correlação entre Emoção e Comunicação, Provedel e Mansi (2023) reforçam que “se autorresponsabilizar pelas próprias emoções e sua autoexpressão é habilidade necessária a toda e qualquer pessoa, independentemente se está numa posição de liderança ou não”. Esta afirmação das autoras corrobora o que também foi apresentado no livro Thamisa do IBGC:
“A observação consciente — ‘como estou me sentindo agora?’ — é essencial para identificação e reconhecimento das próprias emoções (…) Essa habilidade é chamada de inteligência emocional. Na ausência do autodomínio, a presença de um mediador equilibrado (…) pode ser crucial para a intervenção e, quando necessária, a interrupção do fluxo da comunicação tóxica”.
Com base nas citações acima, é possível interpretar que a Inteligência Emocional contribui para a autoconsciência emocional e, a partir disso – e também por meio do exercício da Comunicação – é possível aprimorar a gestão dos conflitos, construir consenso, promover colaboração e criar um espaço no qual as diferenças são valorizadas. Isso evidencia o quanto Inteligência Emocional e Comunicação são competências correlacionadas que podem apoiar a construção de alguns dos atributos considerados chave para conselheiros de excelência apresentados no início deste artigo.
Ainda sobre comunicação, quando falamos nos atributos chave do conselheiro de excelência, como por exemplo, “simplificar o contexto” (liderar questões complicadas e transmitir mensagens diretamente), podemos refletir que exercitar tal simplificação se dá, também, por meio da prática de uma comunicação assertiva, um dos temas abordados na Formação “Mulheres em Conselhos”, 2ª edição, da instituição Legado & Família.
Valéria Santoro, uma das instrutoras da formação, abordou a importância de fazer pedidos e expressar opiniões de forma clara, positiva e direta, por meio de alguns exemplos aplicáveis a um ambiente de conselho, que adaptei e ilustrei por meio do “de / para” a seguir:
De: | Para: |
“Quero liberadade para ser eu mesma” | “Quero poder expressar minhas opiniões com abertura e empatia, sem julgamentos” |
“Não se incomodem com a minha presença. Fiquem à vontade” | “Gostaria que me dissessem o que posso fazer para facilitar a vocês que se sintam mais livres para se expressar na minha presença” |
Já quando falamos sobre o atributo chave “poder de síntese” (sintetizar informações, experiências e opiniões para definir rota), Dale Carnegie (2020) defende que mesmo que a audiência – no caso, os membros do conselho – esteja interessada naquilo que é dito, é fundamental não perder a noção de tempo e dizer o que deve ser dito de maneira direta e impactante. Ou seja, estamos falando aqui sobre a importância de praticar uma comunicação sucinta e concisa que contribui para construir e exercitar o “poder de síntese”, um dos atributos chave do conselheiro com excelência,
Também trazemos para esta reflexão o conceito da Segurança Psicológica como pilar importante para exercício dos atributos chave de conselheiros de excelência. Como contexto, reforçamos que Segurança Psicológica é um tema que vem ganhando maior atenção nos últimos anos, principalmente por meio dos estudos e práticas da Dra Amy Edmondson, professora de Liderança e Gestão na Harvard Business School. Conhecida por seu trabalho segurança psicológica, é autora de livros como “A Organização sem Medo: Criando Segurança Psicológica no Local de Trabalho Para Aprendizado, Inovação e Crescimento”
Segundo Edmondson (1999), segurança psicológica é “crença compartilhada pelos membros da equipe de que a equipe é um ambiente seguro para se tomar riscos interpessoais”, tais como falar abertamente, escutar e fazer perguntas, desafiar o status quo, assumir erros, arriscar e experimentar, colaborar e ajudar os demais, discutir problemas e preocupações, etc.
De acordo com o autor Biland Sadek (2024), embora a segurança psicológica tenha sido amplamente estudada em ambientes de equipe, sua aplicação e importância em ambientes de conselho não tem sido aprofundada. Para tratar essa lacuna, o autor escreveu um artigo que fala sobre ter a segurança psicológica “sempre ativa” nos ambientes de conselhos que, segundo ele, se trata de um local no qual “são tomadas decisões de alto risco e a dinâmica e as interações entre os membros do conselho desempenham um papel crucial na determinação da eficácia da governança”.
Sadek (2024) defende que a segurança psicológica é fundamental nos conselhos uma vez que possibilita que os membros possam “expressar suas ideias, preocupações e perguntas sem medo de consequências negativas” e que isso favorece uma tomada de decisão mais consistente e melhor diálogo / desempenho dos participantes. Além disso, de acordo com o autor, “os membros do conselho devem garantir que o ambiente da sala de reuniões seja propício à segurança psicológica”.
Com base no argumentos de Sadek, ser capaz de construir e fomentar um ambiente de segurança psicológica nos ambientes de conselho pode contribuir para construção de confiança entre os envolvidos, para um ambiente de colaboração e para diversificar opiniões, como sabemos, alguns dos atributos chave de conselheiros de excelência.
Para concluir, resgato que o objetivo inicial deste artigo foi esclarecer de que maneira competências como Segurança Psicológica, Inteligência Emocional e Comunicação podem contribuir para a construção e o exercício de atributos considerados chave para um conselheiro(a) de excelência.
Ao longo deste análise, buscamos demonstrar de que maneira tais competências fortalecem junto aos membros do conselho uma postura assertiva e concisa nos diálogos e deliberações, bem como de que maneira estas mesmas competências podem favorecer a construção de um ambiente seguro, colaborativo, no qual as diferenças sejam valorizadas e os conflitos sejam proveitosos.
Esta reflexão tem como objetivo inspirar membros de conselhos na busca por desenvolver, fortalecer e exercitar estas competências a fim de potencializar uma atuação de excelência e cada vez mais focada no melhor interesse da empresa e de seus acionistas.
FONTES:
- A Organização sem medo, Amy Edmondson, 1999
- Anotações aula da professora Valéria Santoro na Formação “Mulheres em Conselhos”, 2ª edição, da instituição Legado & Família, 2024
- Como falar em público e encantar as pessoas, Dale Carnegie, 2020
- Emoção e comunicação: reflexões para humanização das relações no trabalho. Cynthia Provedel e Viviane Mansi, 2023
- Perfil das Mulheres no Conselho, Korn Ferry, 2024
- Psychological Safety in The Boardroom, Biland Sadek, 2024
- Segurança psicológica e diálogo entre líderes e liderados, Cynthia Provedel, 2023
- Thamisa – Dinâmicas Humanas no Conselho, IBGC, 2020