Um temor existente e que faz parte da lei da vida é o da descontinuidade. Tememos por isso, pela descontinuidade dos investimentos que fazemos, da descontinuidade onde nossas energias são depositadas, dos negócios que criamos, das relações que estabelecemos e das pessoas que amamos e acima de tudo, da nossa própria história.
Ao longo da vida vivemos uma série de transformações, onde continuidades e descontinuidades nos acompanham, envolvidas num misto de sentimentos de prazeres e desconfortos, capazes de nos modificar a cada momento.
Seja pela dor ou pelo prazer, restaria uma missão, uma espécie de compromisso pessoal de cada ser humano consigo próprio: fazer uma versão melhor de si mesmo.
Os temores, os ressentimentos, as mágoas, os arrependimentos são elementos presentes e atuantes, afinal basta estar vivo.
Mas por outro lado, independente disso, todos nós não podemos abrir mão de segurar as rédeas. Sermos o protagonista da nossa própria história.
As famílias empresárias se originam a partir do instante em que novas histórias de vida passam a ir ao encontro de histórias já existentes.
E a partir desse instante, sonhos, expectativas, planos, idealizações, passam a ser ingredientes capazes de dar também uma perspectiva de continuidade.
A continuidade de uma família empresária tem como principal pilar ter um propósito. Mas algo que seja realmente verdadeiro e condizente com aquele grupo familiar e com a história daquelas pessoas. Em outras palavras, qual o sentido que há para que os membros de uma família, independente do clima, do tamanho da dificuldade, dos desconfortos e das necessidades que invariavelmente irão se deparar ao longo do tempo, estejam e permaneçam conectados?
A resposta está em algo não visível, não palpável e sim, transcendental. Aquilo que será capaz de modificar o que há de mais negativo em algo transformador. O que faz com que uma história familiar não se interrompa, não descontinue.
Os valores, as crenças e a própria missão de uma família empresária são algo fundamental para o seu crescimento e continuidade. Mas hoje se sabe que há um algo a mais.
Que não tem forma, não tem cor, não é doce, nem salgado, muito menos azedo ou picante. Algo que está na natureza mas incapaz de ser extraído, importado ou copiado.
Está nas entranhas ou nas profundezas de uma família. Uma força vital talvez, mas ainda assim, um pouco mais que isso.
Resgatar e dar luz a essa força, a esse algo que transcende e denomina-se como sendo a quintessencia da família empresária.
*Quintessência (quinta essência) é uma alusão à Aristóteles, que considerava que o universo era composto de quatro elementos principais – terra, água, ar e fogo-, mais um quinto elemento, uma substância etérea que permeava tudo e impedia os corpos celestes de caírem sobre a Terra. Em 1998, três astrofísicos da Universidade de Pensilvânia – Robert Caldwell, Rahul Dave e Paul Steinhardt – reintroduziram o termo para designar um campo dinâmico quântico que é gravitacionalmente repulsivo.
A dinamicidade é a propriedade mais atraente da quintessência. O maior desafio de qualquer teoria de energia escura é explicar o fato de ela existir na medida exata: numa quantidade não tão grande para impedir a formação das galáxias no universo primordial, e nem tão pequena que não pudesse ser detectada agora. A energia do vácuo (a constante cosmológica de Einstein), é totalmente inerte, mantém a mesma densidade o tempo todo. Portanto, para explicar a quantidade de energia escura hoje, os valores da constante cosmológica deveriam ter sido muito bem sintonizados na criação do universo para ter o valor adequado com as observações de hoje. Em contraste, a quintessência interage com a matéria e evolui com o tempo, de forma que se ajusta naturalmente aos valores observados na época atual.
Fonte:”The quintessencial Universe”, Scientific American vol12, número 2, 2002, pagina 41.
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