As Empresas Familiares e a sua Capacidade de Suportar as Incertezas

O filósofo alemão Emmanuel Kant definiu o conceito de inteligência como sendo a capacidade de um indivíduo em suportar as incertezas. Entendo que tal conceito se encaixa perfeitamente para uma realidade empresarial bastante específica: me refiro às Empresas Familiares.
Nos últimos quinze anos, tenho tido uma vivência extraordinária pelo privilégio em assessorar as mais diversas realidades de famílias empresárias pelo Brasil, América Latina e Central. E se tivesse que destacar um aspecto em especial este seria a capacidade existente dentro de uma família empresária em suportar e lidar com momentos e períodos de incertezas: tanto nas próprias relações familiares, como entre sócios, na própria gestão e também de instabilidade econômica.
Ao mesmo tempo em que lamento muito quando nem sempre tal reconhecimento seja suficiente ou venha a tempo de reverter um quadro ou período de crise com que família e negócios tenham se deparado.
De acordo com a experiência adquirida, afirmo com tranquilidade que mesmo quando os negócios se encontram em períodos ou momentos de crise – nada incomum especialmente num país como o nosso – , caso as relações familiares se caracterizem de forma saudável, a tendência é de que a família transforme um cenário empresarial difícil em algo altamente positivo. Do contrário, quando as relações entre os integrantes de famílias proprietárias se encontram em dificuldade elevada, basta um pequeno mal-estar nos negócios para que a descontinuidade familiar e até mesmo o desaparecimento empresarial aconteça num piscar de olhos.
Mas o que configura relações familiares saudáveis quando se tem no centro uma empresa ou negócios para se administrar?
A história mais recente tem nos mostrado que as famílias empresárias que tem se perpetuado são aquelas que não abriram mão do seu propósito e dos seus valores. Em outras palavras, da sua essência. Mesmo em períodos turbulentos, seja nos negócios ou nos relacionamentos entre as gerações, orientamos para que a agenda seja aberta para resgatarem e se perguntarem: o que de fato é importante para nós? o que nos une? o que mantém a chama da nossa família acesa? Qual o nosso legado? O resultado disso é surpreendente e muitas vezes emocionante.
Refletir a cerca de tais questões e assumir compromissos em torno disso, certamente irá contribuir para que se volte a navegar em águas calmas.
Em termos práticos, encarar a empresa como um bem maior. Tomando-se medidas que sejam capazes de beneficiar o todo, deixando de lado qualquer possibilidade de interesse ou privilégio individual.
As empresas familiares se fortalecem na medida em que familiares e sócios se estabelecem, como refere Ivan Lansberg (especialista em Family Business), com as mesmas perspectivas, objetivos comuns e com habilidades complementares.
Há uma frase de Vitor Frankl (psicólogo alemão) que demonstra a importância dos valores para a continuidade: “ Se tivermos um bom por que viver, encontraremos o como viver”.
As experiências ao desenvolver a inteligência das famílias empresárias faz com que sejamos chamados especialmente para os momentos de crise. Coisa que para uma família empresária será algo presente e real ao longo da sua jornada. Das primeiras perguntas que costumamos fazer é: de que forma poderão se organizarem e agirem? Qual o compromisso de cada um para alcançarem o nível considerado ideal?
Para esta questão, John Davis (professor de Harvard) reforça a ideia de que uma crise deve ser encarada com senso de generosidade, onde todos possam se unir em torno de um propósito e otimismo.
Entendo que de acordo com o que temos trabalhado e estudado nos últimos tempos, que assim como existem uma série de métodos e processos para a gestão empresarial, uma família empresária também necessita de gestão. Neste caso, me refiro a relação entre e intra gerações, a relação dos familiares com seu próprio negócio e o próprio desenvolvimento individual dos familiares.
Se por um lado, o fortalecimento dos valores, do legado, do propósito são combustíveis para um processo de continuidade, por outro, a comunicação tem se mostrado como algo vital para que relações saudáveis no ambiente da família se efetivem.
É algo natural do ser humano possuir expectativas em relação aos outros. Algo legítimo. Contudo temos a tendência de cobrarmos dos outros essas expectativas. E quando isso acontece, a possibilidade de serem gerados desconfortos, mal-estares, mágoas e ressentimentos é bem grande. E num ambiente familiar empresarial se tratam de possibilidades reais e quase que a todo instante. Um quadro um tanto típico ao qual nos deparamos constantemente nas mais diferentes famílias e empresas que assessoramos. Para se gerenciar, o caminho é bem simples: apenas transformar as expectativas em combinações. Pois a partir do instante em que se combina algo, pode-se e deve-se cobrar o combinado. O que não pode ser feito em relação ao que se espera de alguém. Mas quando combinamos, está combinado.
E por fim, entendo que toda a família empresária tem uma missão: de desenvolver seus integrantes para que encontrem sua real e verdadeira vocação. Que sejam investidos tempo e energia para que os descendentes realizem o seu pleno potencial. Seja dentro ou fora dos negócios. Pois independente da carreira de cada membro, todos um dia se tornarão sócios. E um sócio que consegue realmente gerar mais valor para seu patrimônio e sua empresa será aquele que estiver bem sucedido profissionalmente. Caso contrário, a empresa terá que assumir um problema que não será seu.
Há muito a ser feito em termos de desenvolvimento, fortalecimento e alinhamento do que realmente faz sentido para uma família empresária. Se trata de um processo de educação. O primeiro passo é que todos os envolvidos tenham lucidez sobre os porquês e a forma de como querem viver.

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