As empresas familiares movimentam a economia não apenas no Brasil, mas em todo o globo. E em geral, seus fundadores são verdadeiros ícones na arte de empreender.
Contudo, a “disrupção digital” vem causando um certo temor no mundo corporativo, principalmente porque a concorrência deixou de ser óbvia e passou a ser imprevisível, dinâmica e rápida. As empresas que entenderam esse movimento se anteciparam às mudanças e hoje lideram a lista das mais valiosas do mundo em 2018, sendo elas, Apple, Google, Microsoft, Facebook e Amazon. Ou seja, todas de tecnologia.
As mudanças e quebras de paradigma chamam atenção quanto à velocidade das tecnologias digitais comparadas aos tradicionais modelos de negócios, o que tem ameaçado a sobrevivência de muitas empresas, principalmente as de controle familiar. Hoje, a informação é democrática e o cliente quer ter acesso a novas experiências. Se as empresas não entenderem isso, estarão fora do jogo em pouco tempo, porque alguém vai oferecer.
Google, Facebook e Apple já possuem licença para operar no mercado financeiro de alguns países e isso irá colocar todo o mercado em xeque, pois essas empresas têm muito acesso à informação e sabem exatamente qual é a dor do usuário e quais são os seus maiores problemas.
O ambiente corporativo mudou drasticamente e a ameaça às empresas tradicionais surge não porque elas geriram mal os seus negócios, mas porque não conseguiram entender que as tecnologias acabaram migrando o consumo para um outro patamar de serviço e muitas delas estão ficando para trás, com produtos obsoletos.
As tecnologias passaram a impor um novo estilo de comportamento na condução dos negócios. O primeiro passo é entender o que essas empresas inovadoras estão fazendo e se requalificar, entendendo quais são as novas práticas de gestão, criação de produtos e quais são as tecnologias disponíveis.
Com essa repaginada, as empresas tradicionais e familiares conseguirão ter uma vantagem competitiva nesse novo mercado, somando toda a experiência que possuem com essa mudança de paradigma.
Somente assim, elas conseguirão olhar para o futuro com mais coragem e menos medo.
Alguns ativos já são fortemente valorizados fora do Brasil e passaram a ter relevante importância por aqui, sendo eles, retenção de talentos criativos e o uso qualitativo de informações.
Gostamos de dizer que essa é uma fase de muitas oportunidades. Aquele ditado: “em terra de cego quem tem olho é rei” é muito assertivo para esse momento. As empresas familiares podem oferecer soluções melhores, mais rápidas, mais baratas e mais convenientes aos seus atuais clientes, a novos clientes e a novos mercados. E sabe por quê? Porque essas empresas são mais ágeis em sua tomada de decisão, pois decidem e implementam tudo localmente, sem a necessidade de obter aprovações em vários níveis de hierarquias ou até mesmo de vários países como geralmente acontece com grandes empresas multinacionais.
Mas as empresas familiares precisam estar abertas às mudanças e ideias que não necessariamente partirão de seus líderes e fundadores.
As empresas familiares podem e devem incentivar a criatividade dos colaboradores – familiares ou não – seguindo o estilo de liderança do Google, que coloca todo mundo para pensar em estratégias para alcançar e alavancar suas metas, bem como contratar novos talentos que sejam inovadores e tenham facilidade no manuseio de tecnologias que agreguem valor ao negócio da família, antecipando-se às mudanças que vêm acontecendo em velocidade exponencial.
No entanto, todas essas iniciativas devem começar pelo topo da empresa, pois se os órgãos superiores (Conselho ou Diretoria) não abraçarem esta causa (sim, causa, e não apenas um episódio momentâneo, da moda) nada acontecerá e restará apenas uma vaga lembrança na lista das iniciativas que nada frutificaram.
Este tema – liderança do processo de inovação pelos órgãos superiores da empresa – será abordado em nosso próximo artigo.
Autores:
Monique de Souza Pereira
Membro do GEEF – Grupo de Estudos de Empresas Familiares – FGV/SP e associada do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. É formada em Direito pela Universidade Cândido Mendes – UCAM/RJ, especialista em Direito Tributário pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ/RJ, em Fiscalidad Internacional? Universidad de Castilla-La Mancha/Espanha, em Fusões e Aquisições, Reorganizações Societárias e Due Diligence e Direito Societário – FGV/SP e consultora de Empresa Familiar pela Universitat Abat Oliba CEU, Barcelona/Espanha. Sócia do escritório Souza Pereira Advogados em Curitiba.
Carlos Alberto Ercolin
Administrador, com MBA e Mestrado em Finanças pela FEA-USP; atualmente cursa o Doutorado na Argentina. Membro de Conselhos de Administração e Fiscal; é Conselheiro Consultivo do PMI-PR. Professor convidado em cursos de pós-graduação no Brasil, Argentina e Caribe. É um dos coordenadores do IBGC-Capítulo Paraná. Autor de diversos livros e artigos sobre temas de economia, finanças e governança corporativa. Coautor do livro de Governança Corporativa dos MBA da FGV.
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