Conceitos como o de se ter empresas sustentáveis, com visão de longo prazo, com capacidade de aliar tradição com inovação, são perfeitamente e naturalmente encontrados em empresas que tem famílias como suas proprietárias. Do ponto de vista empresarial, a solidez e o conservadorismo, a preservação dos valores de quem a fundou, além da alta capacidade em enfrentar e superar crises nos permitem, apesar do momento econômico turbulento, vislumbrar perspectivas positivas na linha do horizonte.
Contudo, existem alguns deveres de casa que devem ser observados no sentido de que as empresas familiares busquem incessantemente o mais alto grau de profissionalismo. A relação entre sócios e o seu Conselho é o que discorro a seguir. Elegi este tema pois nos últimos anos tenho podido assessorar e auxiliar transições e evoluções de contextos e problemáticas como esta.
O Conselho Consultivo ou de Administração não deve ser confundido com o fórum dos sócios. Para as empresas familiares – importante observar bem o contexto – considero um equívoco a criação de um Conselho seja Consultivo ou de Administração, onde neste a totalidade dos sócios esteja representada por todos que possuam percentual de participação da Companhia. Nesses casos o que acaba acontecendo é uma transferência da reunião ou da assembleia para dentro do Conselho. Um risco alto de se tornar uma prestação de contas da gestão para os sócios. Sim é tarefa dos sócios elegerem o seu Conselho, mas fundamental considerar algumas premissas para sua composição. Primeiro que esta eleição ou contratação dos conselheiros deve ser feita de forma conjunta. Assim se terá um Conselho que realmente trabalhará para o todo e não para partes. Depois, num sentido amplo, deverá ocorrer no Conselho os debates e deliberações a cerca de questões referentes a maximização do desempenho, a qualificação da gestão e pensar o futuro e nas estratégias. Temas ou pontos que dificilmente todos os sócios tenham preparo, conhecimento, vivências e experiências suficientes para contribuírem positivamente. Claro que se no grupo de sócios se puder contar com tal capacitação em alguns, poderão vir a compor o Conselho. Mas com o chapéu de conselheiro.
Da mesma forma que os sócios desejam e se preocupam em acompanhar e controlar o andamento tanto da administração, como da própria gestão, o fórum mais adequado para tal deve ser na reunião dos sócios ou assembleia. Onde o presidente do Conselho deve comparecer e estabelecer todas as interfaces necessárias sobre o andamento da Companhia.
Destaco ainda que o Conselho não pode ser usado como plano de aposentadoria. Explico de forma ilustrada: a fim de agilizarem o processo de sucessão, os sócios da segunda geração criaram o Conselho onde seus pais passaram a fazer parte. Ter os fundadores num Conselho pode ser sim algo muito importante para o andamento da Companhia, por tudo que pessoas assim representam na história do desenvolvimento empresarial. Mas quando fui aprofundar neste breve caso que referi, constatei que não haviam membros independentes, não haviam reuniões formais e além do mais, pouco ou nada deliberavam. Ou seja, criaram algo pro forma mas distante de algo proativo e produtivo para o andamento da Companhia.
A qualidade de uma Empresa, especialmente as familiares, passa pela qualidade do seu Conselho. O momento econômico atual tem forçado a que métodos e processos de governança possam ser avaliados, revisados ou até mesmo que modificações sejam feitas. Em suma, que o objetivo seja sim a busca do mais alto grau de profissionalismo especialmente para os sócios.
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