Nesse artigo buscaremos utilizar um mínimo de “financês” e “economês” para facilitar a compreensão e tornar a leitura mais agradável. Sendo assim, alguma licença poética se faz necessária. O dia 30 de outubro de 2019 foi um dia que entrou para a história do Brasil. Não só pelo fato do Banco Central ter renovado a mínima histórica da SELIC, mas pelo mercado futuro de juros ter acompanhado o movimento. Isto significa que a política monetária está sendo chancelada pelos agentes financeiros. O risco país que é uma espécie de seguro caso algum país dê calote em seus títulos, no caso brasileiro já está em patamares similares quando tínhamos grau de investimento.
Quais foram as causas para tamanho deslocamento e qual sua importância para os brasileiros?
As causas são fáceis de explicar. Os pilares que levaram o Brasil a debelar a hiperinflação e ganhar grau de investimento foram abandonados nos três últimos mandatos do PT. Estes pilares são: responsabilidade fiscal, regime de metas de inflação e câmbio flutuante. Sem querer entrar em discussões políticas, o Brasil de 2010 até o início do ex-presidente Temer teve uma política macroeconômica de vieses que feriram as prerrogativas acima citadas. A dívida bruta entrou em espiral ascendente. O regime de metas foi colocado em segunda instância e a inflação subiu de forma relevante. Foram utilizados represamento de aumento do preço de combustíveis, desoneração de folha de pagamentos de alguns setores, manipulação cambial entre outros artifícios como formas de controle para evitar aumento ainda mais expressivo dos preços.
As consequências foram sentidas de forma mais relevante no segundo mandato da ex-presidente Dilma: aumento ainda mais pronunciado da inflação, retorno dos juros aos patamares de dois dígitos, aumento enorme do desemprego causado por uma recessão jamais vista nos tempos modernos de nosso país.
O governo Temer trouxe como espinha dorsal o retorno aos três pilares que colocaram o Brasil como um importante país emergente, pois estávamos nos tornando um país submergente. No atual governo, o viés liberal e respeito extremo aos citados pilares estão sendo ainda mais presentes. Fora isso, temos outros motivos para estarmos construtivos.
Primeiro, o congresso nacional está com pauta de reformas super relevantes para nos tornarmos uma economia mais moderna e pujante. A reforma da previdência que ataca diretamente o problema fiscal já passou de forma mais abrangente do que se previa, fora outras questões relevantes já foram aprovadas: cadastro positivo, capital estrangeiro nas companhias aéreas, MP das Fraudes contra o INSS, MP da liberdade econômica, nova lei das Teles, cessão onerosa e abertura de espaço no teto de gastos. O mais interessante deste processo é que o congresso tomou para si o protagonismo; o executivo está tendo papel secundário até porque não utiliza o sistema antigo de coalizão como força motriz para aprovar sua agenda.
Fora isso, temos a reforma tributária caminhando a passos relativamente organizados e o ambiente internacional é ainda benigno. Há mais de USD 17 trilhões que estão sendo remunerados a taxas de juros negativas. Este fato pode se tornar um problema no futuro ou é sintoma ainda não totalmente diagnosticado pelos economistas.
Juntando os fatos e percebendo que outras conquistas estão presentes tais como: independência do banco central, do ministério público, da polícia federal e da operação lava jato (apesar de tentativas de desmonte). Estes vetores de independência institucional são fundamentais para que tenhamos previsibilidade e respeito as regras e normas. O mercado de capitais está totalmente aberto. Neste ano tivemos bilhões de reais em emissões dos mais diversos instrumentos de captação via dívida ou ações. Isto irriga as empresas que por sua vez desenvolvem novos projetos que por sua vez geram empregos. A queda do desemprego ainda está lenta, pois a recessão passada foi muito forte e prejudicou em demasia o balanço das empresas e das famílias.
Mas, a narrativa acima nos leva a uma sensação: há motivo de sobra para estarmos otimistas com nosso futuro. Podemos ter vento contra, caso algum bloco econômico entre em recessão ou algum problema geopolítico aconteça. Todavia, o preço mais relevante de toda economia, as taxas de juros ou o custo do dinheiro, está na mínima e por motivos sustentáveis. O Banco Central ancorou a inflação e com os pilares de volta, dificilmente veremos uma reversão disso nos próximos anos.
Os juros baixos são como fermento para economia, pois tudo depende dele. Um projeto se torna viável, pois a taxa de retorno esperada fica alinhada com o custo da dívida. Este mesmo custo da dívida das empresas e famílias se tornando mais barato, abre espaço para mais investimentos ou aquisições, e assim por diante. Podemos estar entrando num ciclo virtuoso onde a velocidade do dinheiro aumenta e os projetos são colocados em prática, levando a abertura de novos projetos.
As implicações são positivas, mas a vida do rentista se tornou mais complicada. Atualmente os títulos indexados à inflação (NTN-Bs) estão sendo negociados abaixo de IPCA + 2,00% a.a. para títulos com vencimento até 2024. Estes mesmos títulos chegaram a pagar inflação mais 7,40% aproximadamente em 2016 antes do processo de impeachment da ex-presidente Dilma tomar tração. Numa conta simplificada, uma pessoa que tinha R$ 10 milhões de liquidez e que aplicava neste tipo de título podia gastar aproximadamente R$ 600 mil por ano ou R$ 50 mil por mês sem se descapitalizar. Agora a situação é diferente para todo mundo. Qual a saída?
A profissionalização da gestão dos recursos. Existem alternativas no mercado de capitais nacional para rentabilizar de maneira mais eficiente os recursos disponíveis, todavia o rentista terá que se dedicar de forma muito eficiente para isso ou terá que terceirizar a tarefa. Esta é a razão pela qual 80% das famílias nos EUA que tem mais de US$ 10 milhões de patrimônio se utilizam de assessoria de investimentos independentes e livre de conflitos de interesses.
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