Quer ser conselheiro de empresas? O que considerar antes?

Muitas pessoas me procuram perguntando o que é necessário para se tornar um conselheiro de empresas. Elas geralmente chegam com a ideia de que a função é altamente remunerada e proporciona uma vida mais tranquila. Embora seja possível obter uma boa remuneração, isso depende da perspectiva. Muitos executivos e profissionais experientes criam a ilusão de que trabalharão pouco e ganharão muito, mas, muitas vezes, sequer entendem como funcionam os conselhos e suas dinâmicas.

Séries e filmes americanos frequentemente ilustram um cenário de uma sala de reunião luxuosa, no último andar de um arranha-céu em Manhattan, onde um grupo de executivos de cabelos grisalhos e engravatados discute e vota sobre o futuro da empresa. Esse cenário existe? Sim, mas não deveria ser a imagem padrão do que realmente acontece nos conselhos. Para entender melhor esse universo, é fundamental compreender o conceito de governança corporativa.

 

O que é governança corporativa?

A governança corporativa é um sistema adotado pelos acionistas para direcionar e alinhar as estratégias do negócio, além de manter as relações entre as partes interessadas abertas e bem informadas. Essas partes podem incluir órgãos de fiscalização e agentes reguladores, como a ANATEL no setor de telecomunicações ou a SUSEP no mercado de seguros; governos, em função da devida tributação e arrecadação de impostos; além da própria relação entre sócios e diretoria.

Muitos acionistas são investidores que não desejam participar das discussões diárias do negócio. Além disso, algumas empresas possuem um grande número de acionistas, como as companhias de capital aberto listadas em bolsa, tornando inviável consultar individualmente centenas ou milhares de acionistas minoritários. É nesse contexto que entra o conselho de administração.

 

O papel do conselho de administração

O conselho de administração é um órgão colegiado formado por conselheiros nomeados pelos acionistas, cuja função é defender seus interesses de forma equilibrada e equânime. Ele delibera sobre decisões estratégicas para o futuro da empresa, fiscaliza as ações do corpo executivo – do CEO para baixo – e possui responsabilidade legal sobre os movimentos da companhia.

Essa responsabilidade legal pode, inclusive, resultar no bloqueio de bens do conselheiro caso a empresa enfrente litígios com credores ou esteja envolvida em fraudes. Ou seja, trata-se de uma função que envolve riscos reais. A história já mostrou diversos casos de conselheiros que tiveram seus bens congelados ou até confiscados devido a decisões equivocadas da empresa.

Um exemplo recente é o caso da Americanas, ainda sob investigação, no qual medidas judiciais determinaram a restrição patrimonial de ex-conselheiros. Outro exemplo foi o da Petrobras: o Tribunal de Contas da União (TCU) investigou os ex-conselheiros, incluindo Dilma Rousseff, que, em 2006, havia votado a favor da compra da refinaria de Pasadena – um negócio que gerou grandes prejuízos para a empresa. O TCU absolveu Dilma, mas outros diretores não tiveram a mesma decisão favorável.

 

Aspectos positivos da função de conselheiro

Agora, vamos aos pontos positivos de ser um conselheiro de empresas.

Como sou apaixonado por conhecimento, minha motivação para essa função vem da exposição a diversas indústrias e desafios distintos. Como não se trata de um cargo de dedicação exclusiva, um conselheiro pode atuar em múltiplos conselhos de diferentes empresas, o que permite um aprendizado contínuo e a oportunidade de conhecer profissionais experientes e expandir conexões estratégicas.

Para os donos das empresas, o conselho também é uma ferramenta valiosa, pois permite trazer do mercado conselheiros de diversas áreas e com especializações complementares. Por exemplo, quando atuei no conselho da CIMED, meu foco estava nas estratégias de negócios, com ênfase na transformação digital. Na minha experiência no conselho do Cruzeiro SAF, o colegiado era formado por executivos de áreas como marketing, jurídico, recursos humanos, tecnologia, entre outras.

 

Remuneração e desafios da carreira de conselheiro

A forma e a magnitude da remuneração do conselheiro variam bastante de empresa para empresa. Já fui remunerado tanto de forma fixa mensalmente quanto por reunião. Se você fizer um cálculo da remuneração por hora, o valor vai depender diretamente do nível de envolvimento com a empresa. 

Algumas organizações exigem bastante dos conselheiros, ultrapassando o papel de governança e tentando impor responsabilidades executivas que, na verdade, cabem à diretoria. 

Esse cenário é perigoso, pois cria um conflito: o conselheiro não pode ser avaliado com base na execução das estratégias que ele próprio ajudou a definir. Conselheiros e executivos desempenham papéis distintos.

Para esclarecer melhor essa distinção, aqui estão alguns exemplos de discussões típicas de um conselho de administração, nas quais já tive a oportunidade de participar:

• Definição da remuneração do CEO, ou até mesmo sua substituição;

• Decisão sobre fusões ou aquisições de outras empresas;

• Entrada em novos mercados ou modelos de negócios, entre outras.

 

Vale a pena ser conselheiro?

Em resumo, cada profissional que considera ingressar nessa carreira deve sopesar os seguintes aspectos:

  • Remuneração: pode não ser consistente e varia conforme o nível de envolvimento com a empresa, algo que nem sempre é claro desde o início.
  • Responsabilidade legal: trata-se de um compromisso sério, que pode resultar em prejuízos patrimoniais e, em casos mais graves, até em responsabilidade criminal se o conselheiro não for diligente o suficiente ou não se opuser em ATA a decisões questionáveis.
  • Curiosidade intelectual: se você gosta de se envolver em desafios variados e aprender continuamente, essa pode ser uma carreira estimulante e enriquecedora.
  • Networking: a maioria das posições em conselhos surge por meio de indicações, e não por recrutadores. Além disso, atuar em um conselho pode abrir novas oportunidades profissionais e expandir sua rede de contatos.
  • Dedicação ao estudo: ler um grande volume de material recebido antes das reuniões é parte inerente da função. Não há espaço para improviso: os encontros contam com profissionais bem preparados e, se você não fizer sua lição de casa, corre o risco de enfrentar situações embaraçosas.

Ser um conselheiro de empresas pode ser uma experiência extremamente enriquecedora e influente, desde que se compreendam os riscos e desafios envolvidos. Quem deseja seguir esse caminho precisa estar disposto a aprender continuamente, a lidar com grandes responsabilidades e a exercer um papel estratégico e consultivo dentro das organizações.

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