Ultimamente temos ouvido muita coisa sobre governança (governança de TI, governança de pessoas, governança, governança,…), mas, indo diretamente ao ponto: como a dita governança pode nos auxiliar na obtenção de resultados efetivos?
Para que respondamos a essa pergunta, outra se faz necessária: toda organização (seja ela pequena, média ou grande, nacional ou multinacional, de serviços, agrícola ou indústria) possui governança?
Se entendermos a palavra governança, como sistema de governo, a resposta é sim: toda organização possui um (algum) sistema, seja ele profissional ou amador; profundo ou superficial; esquematizado ou improvisado. É aqui que diferenciamos a simples governança das boas práticas de governança (aquelas que farão diferença e que são valorizadas pelos stakeholders). Se uma empresa tem ou não um conselho de administração… não é isso que criará ou destruirá sua riqueza, mas se o conselho agrega ou não valor, mediante boas decisões. Isto, sim, pode adicionar valor ou até mesmo aniquilar uma organização.
Parece que a governança entrou na agenda dos decision-makers: mas se ela é para valer ou apenas para “inglês ver” isso é outra coisa; basta observar a quantidade de escândalos que vivenciamos nos últimos tempos (seja lá fora ou aqui mesmo no Brasil). Muitas das organizações com as quais sonhamos trabalhar ou nos inspiramos na nossa juventude, se viram envolvidas em escândalos ou malfeitos (sugerimos duas séries: Na rota do dinheiro sujo e Rotten, ambas da Netflix -você vai se decepcionar com algumas das empresas que provavelmente adorava ou respeitava). Alguns críticos da governança afirmam: mas elas tinham um sistema de governança: possuíam Conselho de Administração, Conselho Fiscal, eram auditadas por uma das big four,….. no que retornamos para a diferença entre governança e boas práticas de governança (note que falamos práticas, do verbo praticar, não apenas teorizar, dizer que possui, mostrar aos amigos e mídia, para dizer que está de acordo com o mercado, etc..).
Sim, infelizmente, vimos muitas empresas “adotando” a governança como se fosse um remédio para todos seus males, ou até mesmo como um instrumento de marketing, como quem diz: agora eu estou no time dos bonzinhos… mas a realidade se mostrou bem diferente, ao final e ao cabo de alguns escândalos recentes.
As boas práticas de governança, ao contrário, podem ser mensuradas:
• diminuição do WACC -custo médio ponderado de capital- pois a percepção de que boas práticas foram implementadas dão mais segurança aos investidores, pela diminuição da assimetria de informação, tornando seu risco menor e isto se traduz num menor custo de captação de recursos);
• menor custo de captação e retenção de pessoal (mais pessoas, principalmente os mais jovens, querem se juntar a empresas vencedoras e que praticam a transparência -um dos princípios da governança corporativa);
• melhor rating (as agências de rating tendem a melhorar a classificação das empresas com comprovadas práticas de governança corporativa – o contrário também é válido: tendem a piorar a classificação das demais, e em ambos os casos, o reflexo se dá no custo de captação);
• imagem melhorada: e isto pode ser mensurado, ainda que de forma indireta.
Em resumo: se a governança é mais do mesmo, ou um simples modismo, em que se adere por conveniência, o tempo se encarregará de precificar a iniciativa (na verdade já o vem fazendo, seja aumentando o valor das ações de empresas com comprovadas boas práticas, seja praticando um deságio nas que fingem adotar boas práticas mas são apanhadas fazendo justamente o contrário).
Como se diz atualmente: já não é mais questão de perguntar se sua organização deve adotar as boas práticas, mas quando o fará, pois seus concorrentes já o fizeram e você não gostaria de ficar na retaguarda, gostaria?
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