Inovação a partir dos Órgãos Superiores das Empresas

A governança de uma empresa, em geral, prevê um processo decisório estruturado contemplando órgãos de deliberação, controle, fiscalização e execução. Citando alguns exemplos, a Assembleia de Sócios é órgão de representação máxima da propriedade (quotas ou ações) que define os assuntos de interesse da empresa, já o Conselho de Administração é responsável pela estratégia do negócio, visando afastar riscos e gerar valor ao negócio, e a Presidência é o mais alto posto da estrutura de gestão e responsável pela execução das atividades definidas pelo Conselho de Administração.

Tone of the top é uma expressão muito comum aos militantes da governança corporativa. Significa que os órgãos superiores, de uma empresa, liderados pelo Conselho de Administração devem dar o “tom”, ou seja, mostrar como se faz, incentivando e liderando, não apenas dizendo ou assistindo passivamente.

Em resumo: o exemplo deve vir de cima. Com inovação não pode ser diferente. Muito se tem dito sobre inovação; algumas empresas estão até criando departamentos de inovação na esperança de que suas empresas passem a ser inovadoras. É o mesmo que esperar que as fraudes e escândalos cessem por se ter criado uma “diretoria de Governança e Compliance”.

É comum perguntar: quantas vezes seu Conselho de Administração se debruçou sobre o tema inovação nos últimos tempos? Ou apenas delegou este assunto para níveis e alçadas inferiores?

Assim, é importante voltar ao começo: se este assunto não estiver na agenda permanente do Conselho de Administração nada irá acontecer; de nada adiantará cobrar “inovações” se nada for alterado, ou seja, se estrutura, processos e pessoas continuarem as mesmas. Falar de inovação apenas porque está na moda não tornará a sua empresa inovadora; é o mesmo que esperar matar a fome apenas lendo o cardápio: as empresas devem partir para a ação e, neste caso, elas devem começar pelo começo.

Devem ser feitas algumas perguntas: por que, para que e para quem a nossa empresa precisa inovar? O que acontecerá se não inovarmos? Quais os riscos? E os benefícios? Sabemos onde queremos chegar? Se a resposta for não, fazemos a seguinte provocação como o gato em Alice no país das maravilhas: se não sabes onde queres chegar, como sabes se já não estás lá? Como mediremos a inovação? Quais as ferramentas? Qual a frequência da medição?

“Inovar pela inovação” nada acrescenta de valor às empresas. O que se espera de resultado com ela? Novos produtos e serviços? Novos processos? Novos mercados? Novo mindset? Por isso deve-se começar pelo topo, pois estas não são perguntas corriqueiras e de fácil resposta; é até provável que os órgãos superiores não tenham todas as respostas “dentro de casa” e devam buscá-las fora: seja trazendo profissionais do ramo para uma conversa com o Conselho de Administração, seja contratando talentos que auxiliem nessa trajetória e façam os projetos acontecer, seja trazendo Conselheiros com esse viés, criando comitês de inovação com liberdade para testar, acertar e errar ou até participando de fóruns, feiras ou mesmo visitando outras empresas – no Brasil e exterior- para um benchmark.

Talvez criar uma diretoria de inovação não resolva o problema, pois ela seria uma ilha, cercada pelos mesmos processos repetidos que talvez já estejam obsoletos, o que em nada agregaria para a empresa. É certo que alguma estrutura deve ser criada, mas esse é apenas um passo, importante, mas apenas um passo dentro da longa jornada (sim, a inovação é um processo contínuo – e não um projeto -que se inicia e finda) da inovação.

Verificar o que está sendo feito no mercado por empresas inovadoras, quais são as tecnologias disponíveis, afinal, muitas das grandes empresas do momento e até as startups consideradas unicórnios (que possuem avaliação de mercado acima de 1 bilhão de dólares) não se destacaram porque criaram a “roda” ou porque estão utilizando tecnologias de “foguete”, mas sim por entender como o mundo está funcionando, utilizar o que está disponível e gerir com maestria todo o ferramental necessário para acelerar o seu crescimento .

Um Conselho de Administração formado por conselheiros experientes não tem medo de buscar novas soluções ou trazer soluções já testadas; ele sabe da importância da velocidade no campo da inovação; sabe também que de nada adiantam centenas de iniciativas, enquanto talvez um tiro certeiro resolvesse o problema; é preciso criar uma estrutura para que as iniciativas se transformem em processos, produtos ou serviços melhores, mais baratos e mais eficientes. Para finalizar é importante enfatizar que esforço não significa resultado. Deve-se traçar metas e objetivos claros, senão a sua empresa ficará apenas na teoria, muito bonita de ser discutida numa reunião de Conselho de Administração, mas sem criar benefícios aos stakeholders mais próximos e à comunidade.

Artigo escrito em parceira com Carlos Alberto Ercolin

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